Translate

05 novembro 2009

ABANDONO AFETIVO DO FILHO NÃO PODE SER COMPENSADO COM DINHEIRO






Ana Cássia Maturano

Psicóloga e psicopedagoga

Quando uma criança nasce, ela não precisa de muita coisa. Cama e roupas limpas, banho e leite mornos. Uma mãe que a acolha em suas angústias e necessidades. E um pai que garanta a mínima tranquilidade à mãe para que ela possa oferecer tudo isso ao seu bebê, sempre com sua ajuda.


À medida que cresce, suas necessidades vão sendo outras – primeiros passos, escola, vida social, primeiro amor, primeiro emprego e por aí vai... De uma coisa ela vai precisar sempre – de um pai e uma mãe que estejam ao seu lado para enfrentar os desafios.


Às vezes, a vida prega uma peça e um deles morre. A ausência chega a ser insuportável para alguns, mas nada como o tempo para ajudar a se conformar com aquilo que é natural da vida. Mesmo assim, aquele que se foi faz e fará muita falta na vida de um filho.


O que tem acontecido bastante hoje em dia, devido ao alto índice de separações conjugais, é o distanciamento da figura paterna que chega a perder o contato com seus filhos, fazendo com que esses sejam verdadeiros órfãos de pai vivo.


Alguns desligam-se de tal modo de sua prole, que não ficam sabendo de nada da vida deles, inclusive deixando de colaborar com o sustento dos pequenos.


É claro que isso não acontece com todos os pais que se separam. No entanto, não é incomum o homem se separar da família inteira quando do fim de seu casamento. Como se o único elo para com ela fosse a mulher. A partir daí, fica-lhe o papel que parece ser aquele que a sociedade sempre lhe designou – o de provedor. Para muitos dos que se separam, parece que isso é suficiente para ser pai. Apesar que muitos nem esse papel cumprem.


Esquecem que uma criança além das necessidades materiais tem muitas outras: ser protegida, ensinada, amparada, encorajada e, sobretudo, amada. São coisas que também fazem parte da função de um pai. Com um valor maior do que, por exemplo, pagar uma escola caríssima para o filho. Quantos filhos não trocariam muitos bens que possuem pela presença mais constante de seu pai?


Porém, essas coisas são difíceis de serem cobradas, diferente de uma pensão de alimentos, que é uma obrigação legal. Não é algo mensurável. Como exigir que alguém ame um outro alguém? Ou que esteja presente em momentos importantes de sua vida?


Nem sei se seria adequado um pai ir a contragosto ao aniversário de seu filho. Só para cumprir uma simples obrigação e não para dizer, com sua presença, o quanto ele é importante. Acredito que seria danosa para uma criança uma postura assim.


Provavelmente, crianças que sofrem esse tipo de abandono vão ter consequências em suas vidas. Não é fácil para ninguém saber que seu pai está por aí e nem quer ver você. Fica uma idéia de não ser importante e sem valor.


Dano moral


Por causa disso, há um projeto de lei tramitando na Câmara de autoria do deputado Carlos Bezerra (PMDB – MT), que propõe o pagamento de uma indenização por dano moral para pais que abandonam afetivamente seus filhos.


A idéia é interessante por reafirmar a necessidade de uma criança de ter um pai. No entanto, a relação com essa figura parental continua a ser na base do dinheiro: ele não dá amor, dá dinheiro pelos possíveis danos causados com sua ausência. Então está resolvido, assim como ele tem que dar a pensão de alimentos (às vezes mediante muita pressão, inclusive judicial), ele reembolsa o filho pela sua ausência afetiva. O pai continua na posição daquele que comparece com dinheiro.


Ter um filho vai além de uma questão afetiva. É uma questão moral. Quem tem um filho tem o dever moral de cuidar dele em seus aspectos físicos e psíquicos, até que ele possa por si só caminhar sozinho. E mesmo assim os pais continuam indispensáveis. Assim como é dever dos filhos cuidar de seus pais.


Em casos em que os pais deixam de cuidar de sua prole, não vejo como reduzir isso em cifrões. Aquilo que se paga torna-se viável. No caso, paga-se para não cuidar do filho.


Extraído do Portal G1

Nenhum comentário: