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28 setembro 2009

UMA CHANCE PERDIDA


Foto Folha/Uol



José Carlos Tórtima

Presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB/RJ


Um dos maiores advogados deste País, infelizmente já falecido, costumava dizer aos jovens colegas em início de carreira: "sejam sempre corretos no exercício da profissão, nem que seja por esperteza". A mensagem que estava querendo transmitir é que a honestidade, além de valioso atributo de caráter, é também, ao contrário do que pensam alguns, condição básica para o sucesso na vida profissional. Isso vale para qualquer profissão, inclusive no esporte, servindo como exemplo do que digo os atletas que tiveram as carreiras abreviadas pelo uso do doping.


E Nelsinho Piquet? Não poderia ter escrito um final bem mais feliz para ele neste escândalo que vem abalando o circo da Fórmula 1? Penso que Piquet foi mesmo vítima de chantagem, do tipo "ou você faz meu jogo ou cai fora", para forjar o acidente em Cingapura. Mas não poderia ter ele resistido?


Eu diria não apenas que sim, mas que o piloto terá perdido ali a grande oportunidade de sua vida. Vamos "voltar a fita" do episódio. Imagino-o ali no grid de largada, minutos antes da partida, pensando: devo aceitar esse absurdo? Não! Não vou fazer um papelão desses, vou é correr pra ganhar!


Os carros partem e, algumas voltas depois, ouve-se a transmissão em inglês pelo rádio: "Sr. Briatore?". "Sim, filho". "Não dá pra fazer o que o me pede, chefe, tenho um nome a zelar". Com o microfone fechado, o outro resmunga, espumando de raiva: "f.d.p."


A oportunidade perdida por Nelson Piquet Júnior? Primeiro, a de mostrar ao mundo a raça e o valor da nossa gente. Mas também a de desfrutar dos bons contratos de publicidade que essa imagem positiva lhe garantiria.


Artigo publicado no jornal O Dia, 23 de setembro de 2009


Extraído do site da OAB/RJ


Nota do blog:


A Fórmula 1 há muito tempo tem dado provas insofismáveis de que aquilo não é esporte competitivo, mas um jogo sujo de interesses de grandes grupos econômicos e integrada por dirigentes de duvidosa integridade moral.


Porém, ao aceitar essa empreitada, o piloto brasileiro Piquet Júnior extrapolou todos os limites e envolveu-se num dos mais lamentáveis e vexatórios eventos desse circo monstrengo. Colocou em risco sua própria vida e a dos demais pilotos da competição. Também deveria ser banido dessa modalidade esportiva e quiçá do esporte – e não ser ‘agraciado’ com a delação premiada -, mesmo porque sua presença na pista jamais será aceita por outros pilotos que tenham ao menos um pouco mais de amor à vida do que ao emprego, ao dinheiro ou a fama.


Um episódio vergonhoso não só para ele e sua família, mas para o próprio país, vez que os pilotos são conhecidos por seu nome e por sua nacionalidade.

PS:Já havia escrito esta nota quando vi domingo pela TV a entrevista do Nelson, pai. Ele deixou claro que só resolveu contar a "tramoia" porque foi rompido o contrato da Renault com seu filho. E disse que Briattore era uma pessoa pouco intelingente. Quer dizer: se não tivesse demitido Nelsinho, ninguém jamais saberia a trama.  Então retifico o último parágrafo acima. O episódio só é vergonhoso para os brasileiros que prezam a ética, a decência e a honestidade.    

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