O SERMÃO DE NASRUDIN
Khawajah Nasr Al-Din*
(Séc. XIV – Turquia)
Certo dia, os moradores de um pequeno lugarejo quiseram pregar uma peça no Mullá Nasrudin. Na época ele já era considerado uma espécie meio indefinível de homem-santo, e então, para testá-lo, resolveram convidá-lo para fazer um sermão na mesquita. Nasrudin concordou.
No dia marcado, ele subiu ao púlpito e falou:
_ Ó, fiéis! Vocês sabem sobre o que eu vou falar para vocês?
_ Não, não sabemos – responderam eles em coro.
_ Já que não sabem, não poderei vos falar nada. Gente ignorante, isso é que vocês todos são. Assim não é possível começar o que quer que seja – disse o Mullá, bastante indignado com a ignorância daquela gente que o fazia perder tempo.
Para surpresa geral, Nasrudin desceu do púlpito e foi para casa.
Dias depois, um pouco envergonhados, formaram uma comissão de fiéis que seguiu até a casa de Nasrudin para, mais uma vez, convidá-lo para fazer o sermão da sexta-feira seguinte, dia da oração.
Nasrudin subiu ao púlpito e começou o sermão com a mesma pergunta da semana anterior:
Desta vez a congregação respondeu em coro:
_ Sim, Mullá, sabemos.
_ Neste caso – disse Nasrudin -, não existe razão para prender-vos aqui por mais tempo. Podem se retirar.
E voltou para casa.
Por fim, conseguiram persuadí-lo a fazer o sermão da sexta-feira seguinte, que começou com a mesma pergunta:
_ Sabem ou não sabem?
A congregação, julgando-se preparada, respondeu:
_ Alguns sabem e outros não.
_ Ótimo – disse Nasrudin -, já que é assim, que aqueles que sabem transmitam o que sabem para aqueles que não sabem.
E foi para casa.
*Nasrudin (também chamado Nasreddin, Nasr ud-Din, Nasredin, Naseeruddin Nasruddin, Nasr Eddin, Nastradhin, Nasreddine, Nastratin e Nusrettin) foi um sufi que viveu na Anatólia durante a Idade Média. Filósofo e sábio popular, é lembrado por suas histórias divertidas e anedotas. Aparece em vários ditados de tradição persa, árabe, pashtu, urdu e turca. Informações e foto-imagem (wikipédia).
Extraído do livro 100 melhores contos de humor da literatura universal, org. Costa. Flávio Moreira da, Ediouro, 2001.
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