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25 agosto 2009

FIM DE EXPEDIENTE - CONTO


O SERMÃO DE NASRUDIN

Khawajah Nasr Al-Din*
(Séc. XIV – Turquia)

Certo dia, os moradores de um pequeno lugarejo quiseram pregar uma peça no Mullá Nasrudin. Na época ele já era considerado uma espécie meio indefinível de homem-santo, e então, para testá-lo, resolveram convidá-lo para fazer um sermão na mesquita. Nasrudin concordou.

No dia marcado, ele subiu ao púlpito e falou:

_ Ó, fiéis! Vocês sabem sobre o que eu vou falar para vocês?

_ Não, não sabemos – responderam eles em coro.

_ Já que não sabem, não poderei vos falar nada. Gente ignorante, isso é que vocês todos são. Assim não é possível começar o que quer que seja – disse o Mullá, bastante indignado com a ignorância daquela gente que o fazia perder tempo.

Para surpresa geral, Nasrudin desceu do púlpito e foi para casa.

Dias depois, um pouco envergonhados, formaram uma comissão de fiéis que seguiu até a casa de Nasrudin para, mais uma vez, convidá-lo para fazer o sermão da sexta-feira seguinte, dia da oração.

Nasrudin subiu ao púlpito e começou o sermão com a mesma pergunta da semana anterior:
Desta vez a congregação respondeu em coro:

_ Sim, Mullá, sabemos.

_ Neste caso – disse Nasrudin -, não existe razão para prender-vos aqui por mais tempo. Podem se retirar.

E voltou para casa.
Por fim, conseguiram persuadí-lo a fazer o sermão da sexta-feira seguinte, que começou com a mesma pergunta:

_ Sabem ou não sabem?

A congregação, julgando-se preparada, respondeu:

_ Alguns sabem e outros não.

_ Ótimo – disse Nasrudin -, já que é assim, que aqueles que sabem transmitam o que sabem para aqueles que não sabem.

E foi para casa.

*Nasrudin (também chamado Nasreddin, Nasr ud-Din, Nasredin, Naseeruddin Nasruddin, Nasr Eddin, Nastradhin, Nasreddine, Nastratin e Nusrettin) foi um sufi que viveu na Anatólia durante a Idade Média. Filósofo e sábio popular, é lembrado por suas histórias divertidas e anedotas. Aparece em vários ditados de tradição persa, árabe, pashtu, urdu e turca. Informações e foto-imagem (wikipédia).
Extraído do livro 100 melhores contos de humor da literatura universal, org. Costa. Flávio Moreira da, Ediouro, 2001.

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