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21 julho 2009

FIM DE EXPEDIENTE - CONTO



O JUIZ E A CARTOLA
Histórias de Pedro Malasarte*

A noite já ia alta e Pedro Malasarte, sem nenhum vintém, procurava um bom lugar para dormir, quando aconteceu dele passar frente à casa de um juiz. Bateu a porta e pediu pousada, dando o nome de tal doutor fulano, que estava de passagem por aquelas terras.

O juiz costumava a chegar tarde, pois ficava até a meia-noite jogando truco com seu compadre e amigos. E vai então que o filho do juiz, na sua simplicidade, mandou entrar o hóspede e, depois de Malasarte comer até se fartar, deu-lhe pousada, no quarto onde o juiz costumava se vestir.

Quando o juiz chegou a casa, o filho lhe contou o que ocorrera e o magistrado ficou muito satisfeito com a hospedagem. Nem por sombras podia imaginar o que ia suceder.

Lá pela madrugada, quase amanhecendo, Malasarte começou a sentir umas coisas na barriga... Procurou o vaso e, não o encontrando, abriu a janela... Mas lá fora havia uma cachorrada, que pegou a latir e foi um barulho de latidos do inferno.

Malasarte estava suando frio. Mas, nisto, avistou na prateleira uma caixa. Abriu; dentro havia uma cartola de feltro. Estava salvo! Tirou a cartola e, fez nela... Bem, vocês já sabem. Depois pôs outra vez, com muito cuidado, a cartola na caixa e, esta, no lugar onde estava.

Nesse tempo, a manhã já rompia e Malasarte quando ouviu o tropel dos criados na casa, tratou de cair fora. Quando vieram chamá-lo para o café, não o encontraram mais.

Na hora do almoço, o Juiz saiu do quarto e foi para o cômodo em que costumava se vestir. Era dia júri. Vestiu a sobrecasaca, e, distraído, tirou da caixa a cartola e num só golpe a enterrou na cabeça. Não deu outra coisa, o Juiz ficou com a cara... digamos, enlameada. Além disso, sentiu um cheiro que quase o sufocou. Começou então a gritar. A família veio em seu socorro, achando que alguma desgraça tinha acontecido.

Ao vê-lo naquele estado, o filho foi buscar um balde de água, a filha sabonete de cheiro e a mulher um frasco de perfume. O Juiz bufava de raiva. Mas Pedro Malasarte já estava longe.

®Sérgio.www.ricardosergio.net
Publicado no Recanto das Letras em 04/07/2008

*O nome do personagem vem do plural de malas-arte, vocábulo derivado de "artes más" que designa pessoa trapaceira ou arruaceira. Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. (widipédia)
Trata-se de personagem folclórico cujas histórias são contadas de várias formas e serviu de inspiração para o filme As Aventuras de Pedro Malasartes (ou "Malazartes", na ortografia da época) para o comediante Mazzaropi, produzido em 1960, sendo estrelado por este e por Geny Prado.

Um comentário:

Dimas Pereira disse...

O conto da Malazartes é ótimo, e o restante deveria ser, taõ somente, uma "merda".
Abraços
Dimas de Jesus Pereira