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05 fevereiro 2010

VITÓRIA, A CIDADE DO PÓ

O governador Cristiano Dias Lopes Filho, que exerceu seu mandato no período 1967/1971 costumava dizer que a única coisa que a então Cia. Vale do Rio Doce deixava no Estado era o apito de seus trens.



O tempo passou, vieram para o Estado empresas de grande porte, todas ligadas à exportação, especialmente de produtos primários, a Cia. Vale do Rio Doce foi privatizada, mudou de nome para Vale, trocou suas máquinas a vapor por locomotivas a Diesel, aumentou significativamente seus comboios de minérios e hoje, ao invés de apito, espalha diariamente na região da Grande Vitória, principalmente na capital e no município de Vila Velha uma nuvem de pó de minério que inferniza milhares de residências e seus desventurados moradores.



No jornal A Tribuna, de ontem (4/2), o colunista Maurício Prates informa que uma moradora da Praia do Canto, bairro nobre da capital do Estado, lançou um bloco neste carnaval denominado NÃO VALE CHEIRAR PÓ.



Isso demonstra bem o estado de espírito que reina na cidade diante desse mal a que estão submetidos seus moradores e da inércia das autoridades locais.



Onde estão o governo do Estado, Seama, Ibama, Ministério Público estadual e federal?



Ah, sim, firmaram um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), com as solenidades de praxe e tudo mais e ficou por isso mesmo.



A situação é alarmante e se agrava cada vez mais.



A população exige providências das autoridades, que são muito competentes para tirar papagaio da casa dos outros, prender eventuais caçadores de passarinho, mas não atravessam os umbrais do porto do Tubarão e seus terríveis pátios de estocagem e as correias transportadoras de minério para os navios.



A cidade parece uma carvoaria a céu aberto. Fuligem por todo lado. As varandas dos apartamentos perderam sua finalidade e são fechadas por vidros (já tem várias empresas de envidraçamento de varandas) para impedir a passagem do pó.



O bloco de carnaval é um brado de alerta, com ironia e bom humor.



Se não houver providência das autoridades locais – e isso tem sido infelizmente a conduta dos mandatários – talvez seja necessário fazer como os índios de Carajás que interditaram a estrada de ferro de lá, ou os índios de Minas Gerais que fizeram o mesmo. Como não somos índios não vamos fazer isso.



Que tal convidar o presidente e seus mais ilustres diretores a morar na cidade e trabalhar de terno branco na área do porto? Sairiam de lá como carvoeiros.



A Vale só vai fazer alguma coisa se tiver interditada judicialmente sua exportação ou com a imposição de multas pesadas e contínuas e que o governo crie um órgão isento e competente que faça medições periódicas dos níveis absurdos de despejo desse terrível, indesejável e maléfico pó preto que ela derrama todos os dias na cidade. Conhecida como cidade presépio, o presépio está enferrujado. Até inox aqui enferruja. Virou a cidade do pó.



Era melhor o apito do trem.



O pó de minério que se inala todos os dias e empretece as residências é intolerável e inaceitável.



Ninguém agüenta mais isso. É abuso demais.

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