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11 outubro 2010

SOCIEDADE DE FATO DEPENDE DA EXISTÊNCIA DE BENS COMUNS

A inexistência da prova de patrimônio adquirido pelo esforço comum é circunstância suficiente para afastar a configuração de sociedade de fato, porque é pressuposto para seu reconhecimento. A conclusão é da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O processo teve início com ação de reconhecimento de sociedade de fato proposta por concubina contra a esposa legítima, após a morte de deputado estadual da Paraíba, com quem manteria relacionamento amoroso concomitante ao casamento. Ela afirma que era funcionária da Assembleia Legislativa quando o caso começou, em 1973, tendo nascido dois filhos da relação.

Na ação, a concubina pediu que fosse reconhecida a sociedade de fato mantida por 31 anos com o deputado, pois ela e os filhos viviam sob sua dependência econômica e afetiva, durante o relacionamento que durou até a morte do parlamentar, em 2004. Ele foi casado desde 1962 até morrer e também tinha dois filhos com a esposa.

Ao contestar a ação, a defesa da viúva alegou, em preliminar, a impossibilidade jurídica do pedido, pois o marido jamais deixou o lar conjugal ao longo dos 42 anos do casamento. Afirmou que cuidou do marido em sua enfermidade anterior à morte violenta, em longa peregrinação médica. Por fim, rebateu a existência tanto de concubinato quanto de união estável.

A sentença julgou improcedente o pedido. Segundo o juiz, não houve prova da contribuição do esforço comum para a aquisição de bens que pudessem constituir um patrimônio. Ao julgar apelação, no entanto, o Tribunal de Justiça da Paraíba declarou a existência da sociedade de fato. O tribunal estadual entendeu ser desnecessária a comprovação do patrimônio adquirido pelo esforço comum quando não se está pedindo a dissolução judicial da sociedade de fato, mas apenas a sua declaração, como no caso.

A viúva recorreu, então, ao STJ. Por maioria, a Turma reformou a decisão. Segundo a ministra Nancy Andrighi, relatora para o acórdão, embora a concubina tivesse mantido relacionamento com o falecido, não fez prova alguma da existência de bens eventualmente acumulados ao longo do concubinato.

A relatora considerou que a “simples convivência sob a roupagem de concubinato não confere direito ao reconhecimento de sociedade de fato, que somente emerge diante da efetiva comprovação de esforço mútuo despendido pelos concubinos para a formação de patrimônio comum. Isso porque a existência de sociedade de fato pressupõe, necessariamente, a aquisição de bens ao longo do relacionamento, para que se possa ter por caracterizado o patrimônio comum”.

Em seu voto, a ministra afirmou, ainda, que, de um homem na posição ostentada pelo deputado no cenário social e econômico, espera-se sagacidade e plena consciência de seus atos. Segundo a ministra, se ele pretendesse extrair efeitos jurídicos, notadamente de cunho patrimonial, em relação à sua então concubina, promoveria em vida atos que demonstrassem sua intenção de com ela permanecer na posse do estado de casados, afastando-se, dessa forma, do lar conjugal. “Se não o fez, não o fará, em seu lugar, o Poder Judiciário, contra a vontade do próprio falecido”, concluiu Nancy Andrighi.

Fonte: STJ
 
Nota do blog:


A verdade é que a sociedade brasileira é monogânica porquanto fundada nos preceitos cristãos. Não é fácil encontrar uma solução no arcabouço legal vigente para os relacionamentos simultâneos, que sempre existiram desde que o mundo é mundo. Embora adote o princípio da afetividade nos relacionamentos familiares o STJ ainda não acha solução para esses casos.

O pressuposto da existência ou não de bens comuns para configuração de sociedade de fato parece considerar apenas o interesse patrimonial contrariando o proclamado princípio da afetividade.

Ademais, trata-se, no caso de evidente concubinato impuro ou adulterino para o qual a lei realmente não prevê qualquer reconhecimento, a não ser para excluir direitos, mas a jurisprudência sempre considerou na sociedade de fato a possibilidade de indenização por serviços prestados e isso independe de contribuição para a aquisição de bens. E, no caso, segundo o TJPB não havia pedido de dissolução da sociedade de fato, mas apenas declaração da existência de tal sociedade, que foi longa e gerou dois filhos.

O fato de ser deputado e por tal reputado "sagaz" não altera os fatos. A convivência existiu por muitos anos e dela resultaram dois filhos e isso foi produzido pelo falecido deputado. Pode-se ignorar isso?

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