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26 setembro 2008

O BRASIL AVALIADO POR UMA ESTUDANTE DE DIREITO

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu Brasil,
Ó Pátria amada
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

(Wickpédia-Primeira Bandeira Republicana)

A UNESCO instituiu um concurso internacional de redação sobre o tema “Como vencer a pobreza e a desigualdade”, para estudantes de nível superior.

Concorrendo com mais de 50 mil universitários, uma brasileira, de 26 anos de idade, estudante de direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro –UFRJ, foi premiada com a seguinte redação:

'PÁTRIA MADRASTA VIL'
Por Clarice Zeitel Vianna Silva
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - RJ

Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios?? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL. Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade. O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições. Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil. A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição! É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão. Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso? Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil. Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona? Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos... Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?

A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso.
A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da Unesco.
(Colaboração de RGM)

3 comentários:

Anônimo disse...

Fonte: http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001576/157625m.pdf

RMG

BC disse...

Texto lúcido e bem fundamentado, sem dúvidas merecedor da premiação.

Quero destacar a parte em que é feita a seguinte indagação: "de que serve um Homem que não se posiciona?"

Tenho sempre dito que as pessoas ignoram totalmente a situação do próximo, ou seja, se ele não estiver sendo atingido por alguma coisa ele não se importa com nada é o que ela diz muito bem quando diz "abundância de inexistência de solidariedade".

Essa é a minha primeira participação no BLOG, quero registrar aqui que achei o temas abordados bem oportunos e interessantes, muito embora eu seja suspeito em razão da profunda admiração, respeito e carinho que tenho pelo seu Instituidor. Parabéns pela iniciativa e muito sucesso!! Estarei sempre aqui. Abraço fraterno. BC.

Anônimo disse...

Seja bem-vindo(a) BC.
Sua manifestação é bem muito oportuna.
Não é à toa que corre a fama de que "mineiro só é solidário com o câncer". Hoje, nem mais isso, acho.
Mas, vale para todos os brasileiros. A sociedade é cada vez mais egoísta e individualista, infelizmente. Mas, aqui achará sempre um espaço democrático para expor suas idéias.
Retribuo o abraço.
Klod