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19 novembro 2008

RELEMBRANDO O ADVOGADO DO DIABO

Muitas vezes se ouve a expressão "advogado do diabo" de forma até depreciativa. Mas a figura existiu verdadeiramente e funcionava com regularidade nos processos de beatificação da Igreja Católica, como relembra Renato Pacca em seu interessante blog traduzindo o juridiques, (acessado nesta data) cujo post ora se reproduz:


O GLOBO noticiou que o processo de beatificação do Papa Pio XII (1876-1958), iniciado em 1965, foi suspenso para uma análise mais detalhada. O atual Sumo Pontífice, Bento XVI, teria interrompido o processo e optado por uma investigação mais profunda a fim de proteger suas relações com Israel, que acusa Pio XII de fazer vista grossa ao Holocausto.
A notícia me recordou a figura do ADVOGADO DO DIABO. Não, não estou falando do apenas regular filme com Al Pacino e Keanu Reeves. Falo do lendário e nobre ofício que existiu nos processos de beatificação e canonização da Igreja Apostólica Católica Romana, entre os anos de 1587 e 1983.
Os longos e complexos processos de beatificação e canonização visam respectivamente conferir a qualidade de beato, e posteriormente de santo, a pessoas que preencham determinados requisitos. É uma prerrogativa da Santa Sé, com aprovação final do Papa, e antigamente o processo contava com a presença concomitante de um "Promotor da Fé" e de um "Advogado do Diabo", funções desempenhadas por advogados nomeados pela Igreja. O primeiro defendia a beatificação (ou a canonização) e exaltava as virtudes do candidato, enquanto o segundo fazia justamente o contrário, olhando o processo de maneira cética e procurando lacunas nas provas.
Consta que, após a extinção da função em 1983, pelo Papa João Paulo II, cerca de 500 beatos foram canonizados, enquanto que, no período de 1900 a 1983, ocorreram apenas 98 canonizações, sugerindo uma excelente atuação dos Advocatus Diaboli. A função foi tão emblemática que atualmente a expressão designa uma pessoa que argumenta a favor de um ponto de vista no qual não necessariamente acredita, mas que mesmo assim discute para testá-lo e colocar à prova sua qualidade. Advogados, por exemplo, adoram exercer essa função em reuniões, para testar uma estratégia de atuação e lapidar eventuais falhas e imperfeições.
Voltando ao processo de beatificação de Pio XII, é muito difícil que o atual Sumo Pontífice revigore a função do Advogado do Diabo, uma vez que ela foi extinta por seu antecessor, enquanto ele próprio integrava a Cúria Romana e exercia a função de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Entretanto, não posso deixar de imaginar que ela certamente seria muito útil nesse caso.

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