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01 abril 2011

QUAL O SENTIDO DA VIDA?


Voltaire Marensi
Advogado e Professor no Distrito Federal.


Em um mundo cada dia mais difícil de sobreviver à questão posta acima, objeto de indagação, se torna extremamente complexa no sentido de sintetizar uma resposta escorreita e de pronta aceitação em nossa coletividade.
As adversidades que atravessamos a par de uma constante e reiterada busca na superação de nossas atividades realçam a cadência de uma vida atribulada e muitas vezes vencida a partir de sacrifícios, que denotam um esforço ingente em querer a sublimação do que é justo e belo.
Afinal, como dizia Aristóteles, "toda a vida se divide em atividade e repouso, em guerra e paz. Entre as ações, algumas há que são necessárias e úteis, outras que se referem ao belo." 1
A superação de endemias conjugada a labuta diária em razão de nossa subsistência frente a um mundo mais competitivo leva o homem ao descrédito de todos os valores terrenos, particularmente, de nossas instituições.
A força na busca incansável e diária deste labor torna o homem mais aguerrido, mas, em compensação enfraquece aqueles valores atrelados à espiritualidade que domina a nossa civilização destes os primórdios de nossa existência.
Será que os nossos valores não deveriam percorrer as "entranhas" do que se torna realmente factível para uma perfeita idealização de nossas vidas?
É de curial sabença que a procura e a projeção em valores despidos de alcance puramente materiais, ajudam a nossa existência à consagração de uma vida mais cadenciada com este existencialismo sem fronteiras objetivando, em síntese, a obtenção de um mundo mais digno e mais justo.
Viver além de ser perigoso, como dizia o poeta, é reinventar a beleza do dia a dia.
Deixar passar no cotidiano o artificialismo de convenções predeterminadas ajuda o homem a arrostar melhores condições para que a indagação acima formulada se constitua em um plano mais permeável e simples de se viver.
O sentido das coisas se tornará mais fácil na medida em que houver uma melhor projeção na busca daquilo que, diuturnamente, se pensa em conquistar, mas, de outro lado se torna mais palatável quando dissociado do maniqueísmo da sede de uma conquista diária.
Com efeito. Como o futuro é algo indevassável é melhor que as nossas atividades terrenas se calquem em determinados comportamentos, mesmo que em princípio sem muita pretensão, mas, que ao logo do tempo signifiquem a busca de caminhos trilhados em uma vida pautada, fundamentalmente, em valores éticos e morais.
Assim, mesmo que não se desvende qual é o verdadeiro sentido existencial a prática de determinados estados comportamentais permanecerá como um estágio hibernando a sensação de que alguma coisa se faz para que este ideal utópico jamais deixe fenecer o real sentido da vida que se consubstancia, a meu ver, no inescusável desejo de bem querer.
A figura projetada no personagem de Cândido na obra de Voltaire, que questiona a outro personagem para "que fim foi criado este mundo" com a pronta resposta de Martinho, de "que seria para nos atormentar", 2 quando se debruça sobre os males do mundo de forma pessimista, não deve ser o norte de nossa passagem nesta vida.
Viver significa envolvimento. Enfim, a vida é o compromisso que cada um de nós alimenta para procurar a forma mais sensata de que a existência seja pautada dentro de parâmetros os quais sejam objetos de reflexão que se enceta a cada início do dia. O fim é fruto de uma serenidade, como diria Sêneca, de que o indivíduo deveria encarar como projeção o tempo utilizado, no espaço de sua existência, via de regra, constituída com muito esforço, dentro de um ideal projetado nas primícias de uma vida, que, enfim, a todos é concedida, mas que poucos sabem realmente dela desfrutar.

NOTAS
1 - Aristóteles, A Política, Folha de São Paulo, p. 163.
2 - Voltaire, Cândido ou o Otimismo, Folha de São Paulo, p. 70.
Extraído de Editora Magister/doutrina.

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