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27 setembro 2010

NON SENSE BRASILIENSE

O empate na votação do Recurso Extraordinário 630147 tem como conseqüência lógica o desgaste inevitável da Corte Suprema, pouco ou nada adiantando aguardar nomeação de novo ministro ou declaração de que não tendo sido alcançado o quorum necessário (maioria absoluta da Corte, ou seja, 6 votos), a Lei da Ficha Limpa restaria intacta e de plena vigência, como chegou a anunciar em entrevista o ministro Ricardo Lewandowski.

Político esperto e muito bem assessorado, o então candidato ao governo do Distrito Federal, Joaquim Roriz, que já havia driblado o Senado Federal, ao renunciar o mandato com menos de dois anos de exercício para não ficar inelegível, jogou sua grande cartada.

Renunciou ao mandato, indicando sua mulher e renunciou, junto com a coligação, ao recurso interposto no STF: conseqüência, o recurso haverá de ser julgado extinto por perda de objeto.

Informa o site do STF que chegaram no fim da tarde de sexta-feira (24/09) ao Supremo Tribunal Federal (STF) petições protocoladas pela Coligação Esperança Renovada e seu candidato ao governo do Distrito Federal, Joaquim Roriz, apresentando a desistência do Recurso Extraordinário 630147.

No site do jornalista Sidney Rezende –SRZD, consta que a petição, endereçada ao relator Carlos Ayres Britto, tem o efeito de tornar o recurso inválido "independentemente do fato de já ter sido iniciado o julgamento e de ter sido reconhecida a repercussão geral", citando um precedente da própria Corte, segundo o advogado que a subscreveu.

Em seu site de campanha o candidato ainda tripudia a justiça brasileira com um manifesto eenfatizando o julgaram apegados às luzes dos holofotes, rasgaram a Constituição porque não havia sofreu qualquer condenação. E ainda põe em dúvida a reputação de alguns dos juízes que participaram do julgamento.

Com essa cartada de mestre, Roriz não é candidato, mas sua candidatura permanece por via transversa, sob o nome de sua mulher que usará a mesma coligação, o mesmo número e até a foto que aparecer na urna será de Roriz. Em que país do mundo pode acontecer uma coisa dessa senão no Brasil?

Veja abaixo o inteiro teor do manifesto:

Manifesto de Roriz ao povo de Brasília

Minha ficha é limpa e minha consciência mais limpa do que a consciência dos que me acusam sem provas; e até mesmo do que a de alguns juízes que me julgaram apenas com base em sofismas, muito mais apegados às luzes dos holofotes do que ao espírito das leis. Para isso valeu tudo: rasgaram a Constituição; jogou-se no lixo os princípios gerais do Direito; construíram interpretações, e, no meu caso particular, ignoraram que nunca foi aberto contra mim qualquer processo com base “quebra de decoro parlamentar” e jamais sofri condenação transitada em julgado em qualquer esfera do judiciário.

Do que me acusam? Nunca avancei sobre o patrimônio público, nunca sujei minha mão na lama onde chafurdam os corruptos que infelicitam Brasília e o Brasil. Meu patrimônio, graças a Deus, tem a marca da honradez de uma família que há mais de século nesta região fez do trabalho honesto seu meio de vida. Os antigos “ermos e gerais” que hoje hospedam o centro dos três poderes eram fazendas de meus pais e avós, onde, menino ainda, com os mais velhos, saía para o campeio, dormindo ao relento, comendo frugalmente, como todos os sertanejos de então, enfrentando as intempéries da natureza hostil, demorando às vezes mais que semana para a volta ao lar. Talvez, venham dessas raízes, esse apego e amor intenso por Brasília e nosso povo que me enchem a alma e os sentidos, me tornando escravo do desejo de resgatá-la do caos em que se encontra, preparando-a para o futuro dos próximos 50 anos, com melhora radical na qualidade de vida de nossa gente, principalmente dos mais humildes, que sempre se constituíram a razão maior da minha vida pública.

Os elitistas chegam ao absurdo de dizerem que enchi Brasília de favelas, quando, na verdade, fiz aqui reforma urbana, erradicando favelas e dando dignidade, endereço e cidadania a centenas de milhares de famílias. De toda a imensidão de obra que construí, algumas gigantescas como a Ponte JK, o metrô e a Usina Hidrelétrica de Corumbá, a reforma urbana é a que mais me gratifica e envaidece.

Não posso mais ser candidato. Mas a eleição correrá em meu nome e o povo de Brasília me honrará, elegendo Governadora minha amada esposa, companheira de meio século, Dona Weslian Roriz, competente, honrada, humana e digna. Estarei com ela a cada minuto, da mesma forma que ela sempre esteve comigo, e foi a grande responsável pela alta dose de humanismo dos quatro períodos de governo que chefiei.

Peço ao povo que nos dê também maioria nas Câmaras Distrital e Federal, além de consagrar a eleição dos dois Senadores: Maria Abadia e Fraga. A vitória contra meus adversários me lavará a alma das injustiças que sofri, e fará com que eu não tenha que repetir o grito de revolta do grande humanista Camus: “O pior dos tormentos humanos é ser julgado sem lei.”

Brasília, setembro de 2010

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